#aim to please

Percebi coisas.

Só através da maneira como me relaciono com os outros e os outros comigo,  percebi, entendi mesmo que gosto de agradar e tenho tendência para procurar “pedaços partidos para consertar” – broken pieces to mend.

Assim vejo os pedaços partidos dentro de mim que chocalham quando me zango; por causa de tanto chocalhar, não os ouvia bem e por aqui têm estado mais de cinco décadas, até que durante anos – talvez cinco ou seis – tudo chocalhou demais até gritar aos quatro ventos : “deixem-me em paz!”.  E gritava mesmo. Não sei bem a quem me dirigia, mas era um lamento bem audível.

Percebi coisas.

Claro!  De tanto chocalhar, foi preciso amenizar, senão nem eu me ouvia a mim mesma e gritava por cima da voz dos outros.

Mas faria tudo isto sozinha?  Creio que não.  Por isso adoro pessoas.  São elas que me trazem notícias de mim.

Parei mais de cinco anos só para me ouvir, tal era a barulheira.  Parei literalmente.  Sentada no meu sofá horas a fio. Ainda o faço.  E gosto.

Entretanto, vou sentido a vontade de sair e gosto de sair só.

Ando a namorar-me!

sozinha

 

#love sells #o amor vende

Às vezes faltam-me palavras para explicar esta minha forma de sentir, talvez porque seja recente. Talvez.

É um facto que o amor “vende”.  Sobretudo se a palavra for usada como tag (etiqueta), então é inegável, mesmo.

E, claro,  também as canções de amor “vendem”, os poemas de amor “vendem”, as histórias de amor sempre “venderam;  simplesmente, o princípio chega-nos ao contrário.  Tudo tem muito mais impacto se, na realidade,  se trata de desamor.

Para mim, e sobretudo nesta fase da minha vida, sentir amor não é intenso, como a paixão,; diria que é mais doce, frágil, subtil.  Não nego a paixão. Claro que existe.

Porém, sinto que se estimula o desamor, alguém que sofre por amor… lamento, mas não é amor.  Pode ser desejo, paixão, ou o simples fruto de uma necessidade individual de alguém que ainda não consegue sentir-se preenchido estando só.

É que cada vez faz mais sentido para mim que só mesmo quando estamos completos sozinhos, é que aparece alguém que, por seu lado, estará também muito feliz só, e ambos resolvem juntas as felicidades individuais.

Claro que esta minha perspetiva não é  muito popular.   Prefere-se o “normal” amor tipo Romeu e Julieta,  uma história de ficção, em que as personagens são dois adolescentes – muito bem descrito por Shakespeare – com as hormonas aos saltos, naturais da idade deste Romeu menino e desta Julieta menina.

E andam os adultos deste mundo a sonhar com histórias de desamor, canções de desamor, vidas inteiras de desamor.

E eu suspiro.  Pronto.  Mais uma.

 

#felicidade de pacote

E tal como o pudin flã,  sai uma felicidade de pacote.  Cheia de sunny days  – abençoados, por sinal – e nada de trovoadas (belíssimas), nada de relâmpagos, nada de chuvas fortes e temporais.

Mas… mas…

Há trovoadas fortes e o que fazemos? Vamos pela fé?  Rezamos a Santa Bárbara como faz a minha mãe, que se assusta terrivelmente com o som do trovão?  Apenas há poucos anos aprendi a respeitar muito isso na minha mãe.

O que faço eu? Vou direita para a janela, se possível para a rua, para ver onde ribomba o trovão, quanto tempo demora entre o relâmpago e o trovão: “ai que a trovoada está tão perto, sai daí filha!”  E eu rio, profundamente feliz de ver a natureza no seu estado mais puro,  como se a sentisse dorida de tão zangada que está.

Sei lá se a natureza se zanga! Apenas me sinto feliz por ter esta oportunidade de ver o que nos aterroriza e que nos assusta e sou capaz de sorrir para este medo. Nem sinto o medo, sequer.  Só abençoo estas trovoadas que tanto bem fazem ao nosso planeta mãe.

E assim crio um momento de meditação, em que não me afasto de ninguém,  estou dentro de tudo, usufruo de tudo o que está cá dentro naqueles cinco minutos de trovoada latente – porque depois, como tudo, ela vai embora.  E sou tão trovoada!  Tenho aprendido,  entretanto, a trovejar  e ribombar muito melhor para o bem de todos.

E quando vêm estes ventos fortes que nos despenteiam? Dias depois, vem um nevoeiro que nos abraça tanto, que até afeta a nossa visão.  E aí, quem conduz qualquer veículo sabe, é preciso ir devagar.  Para nosso bem e, consequentemente, dos outros.

E como eu adoro as chuvas fortes! Sim, mesmo quando estou na rua, sem sapatos apropriados e roupa molhada quase até aos ossos!  É que guarda-chuvas, tal como relógios de pulso,  não andam comigo.  Depois entro no carro, molho o assento,  sacudo o cabelo, vai água para o pára-brisas e fico ali a respirar, como se tivesse corrido uns bons quilómetros.  E assim fico, umas vezes espero que passe, outras ligo o carro e vou para casa.

Como é que a vida pode ser feita só de dias de sol?  Há uma maravilha e um espanto profundo no tempo que faz,  na passagem do dia para a noite e mais um dia e mais uma noite.  No inverno, gosto de hibernar.  Agora vem aí a primavera e é tempo de florir. Mas como poderemos nós florir, se estamos sempre em dias de sol? Senão cair muita chuva, se as rajadas de vento não nos trouxerem sementes de plantas lindas de outros locais? Se as nossas nuvens não permitirem que a Mãe Terra descarregue energia elétrica, entre solo e “céu”?

Pois, imagino que o que acabo de escrever pouco importe, porque eu não vendo felicidade de pacote.  Isso não.  Não me queixo se chove, não me queixo se não chove.  Não me queixo quando “isto está tudo muito mal” , quando sinto que tudo acontece com um ritmo natural e o queixume sobre o tempo que faz soa-me a um apelo infantil, como uma constante birra de adultos.  Não atribuo o tempo a uma entidade divina.  Sim, não atribuo a responsabilidade do tempo a Deus (podemos chamar-lhe várias coisas);  acho mesmo necessário que, por cá, a terra vá tremendo de vez em quando, em jeito de arrumar melhor as placas tectónicas que estão mesmo debaixo do nosso território.  Claro que assusta!   Mas a Mãe Terra precisa de se mover – se possível suavemente, para a vida dos seres humanos se manter inalterada –  como nos aconchegamos à noite na cama, até encontrarmos a posição que nos tranquiliza, finalmente, para o nosso corpo adormecer e o nosso cérebro se regenerar durante o sono.

Respeito a Santa Bárbara da minha mãe, que tranquiliza as trovoadas.   Respeito a palavra Deus a quem muitos cristãos se dirigem para pedinchar;  abençoados todos quantos se lhe dirigem para dar Graças e Louvores a toda esta beleza onde moramos.

Sim, gosto de dias de sol, claro!  Gosto de dias de chuva, de vento forte e de nevoeiro.  E gosto muito de ter o respeito de navegar por entre estes dias com uma velocidade diferente,  com uma atenção diferente,  com um olhar diferente.

Assim ando, numa delícia de coisas diferentes. E um dia nunca é igual ao outro,  um minuto nunca é igual ao outro.  E eu sou outra,  entre uma inspiração e uma expiração.

Felicidade de pacote e dias de sol?  Suspiro, respeito, mas essa não sou eu.

#medo

Hoje, o medo é muito forte.

É grande, é enorme, é real.

Conheço bem as variantes do medo, como as variantes da paixão, do interesse, da curiosidade.

E hoje, bolas, o medo é muito real, físico e tremendo!

Quando me assusto, o meu corpo costuma entrar em modo racional e aciona um mecanismo de sobrevivência.

Hoje, de forma consciente, sinto tanto este medo, intenso, que mal consigo racionalizar.

Racionalizar, para mim, é pensar direito.  Agorinha mesmo, não estou a ser capaz.

Nestes momentos, há quem recorra à fé – seja lá no que for ; há quem se sinta melhor ao falar com alguém; há quem peça ajuda; há quem chore.

O susto porém, fica, até sarar. É real como um trauma – uma ferida num dedo.

É importante deixá-lo sarar – o susto, o trauma.

No fundo, é tão, tão importante simplesmente respirar.